quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Velho

VELHO
Porra! Com que rapidez fiquei velho!
Faz pouco tempo, muito pouco, alguns meses; me sentia jovem. Não jovenzinho, mas jovem. Trinta e tantos..mais ou menos, sei lá!
De repente, olho minhas mãos e vejo veias saltadas, rugas acentuadas, algumas manchas escuras. A pele dos braços enrugada, frouxa, sem brilho. Os ombros caídos, o peito também.
Tá sobrando pele! E a barriga! Sempre fora uma tábua e, agora, algo a empurrava pra fora.
As pernas com pouco músculo e muita pele. Cadê o pelos das canelas? Talvez essa tenha sido a maior evidência da velhice.
Careca e cabelos grisalhos muito jovem tem, não é indício de velhice. Canelas carecas, sim! Que coisa feia, canelas lisas, sem pêlos. Lisas nada, marcadas por veias salientes e marcas de machucados antigos.
Corri pro espelho e olhei. Tava sobrando pele, bolsas sob os olhos em que ainda não tinha reparado. Como é que fui ficar velho tão de repente?!
Foi um choque! Sentei na área, no chão e, enquanto o sol caminhava, já chegando perto do horizonte; fiquei cismando. Como é que envelhecera tão rápido? O que tinha contecido? Fiquei cismando...
De repente, a imagem do Pico do Gavião, em Andradas, onde a gente voava de paraglider, me ocupou o pensamento. Não o pico propriamente dito, mas o espigão da cordilheira. Foi isso mesmo!
A vida é como a cordilheira, a gente nasce e começa a subir em direção ao espigão, que representa a juventude. Dali, começa a descida, em direção à velhice. Vai-se descendo a encosta, acumulando anos a cada trecho, até chegar ao vale, que é a velhice.
Eu, pra variar, não concordei com o caminho pré-estabelecido. Ao invés de ir descendo, continuei caminhando pelo espigão, olhando o longe, como o piloto de vôo livre que busca o lift e, principalmente, as térmicas que o levarão para o alto. O objetivo é voar. Pousar é conseqüência que não se pode evitar, mas que se procura retardar ao máximo.
Meus objetivos me mantinham no alto, caminhando pelo espigão, negando-me a iniciar a descida. Não tinha tempo pra olhar pra mim, o olhar estava ocupado nas conquistas que pretendia.
Foi isso! Eu não olhei pra mim, por isso não percebi o que acontecia. Minha mente ficou no espigão enquanto, como eu teimasse em não descer, os anos subiram e foram se acumulando sem que os percebesse.
Nunca tive nada de excepcional, nem músculos, nem formas, nenhum tipo do que se pode classificar como beleza. Nunca me incomodou muito, não fez falta. Fui admirado e reconhecido por outros motivos e, isso, foi importante. Racionalidade, emoção e sensibilidade foram se fortificando com o decorrer do tempo. Acho que isso me fez acreditar que remoçava quando, na verdade, envelhecia. A não ser a capacidade de lembrar, a mente não se deteriora com a idade, ao contrário, se apura e expande. No entanto, a carcaça deteriora, dificultando que a evolução da mente seja melhor aproveitada.
Por algum motivo, nesta idade, eu teria que estar onde estou e, como não havia tempo para descer a rampa da velhice, despenquei na falésia que não permitia volta.
Talvez eu pensasse que enganaria a natureza ou que morreria no espigão, livrando-me da descida.
Nem uma coisa nem outra! Estou aqui, com pele sobrando, pêlos faltando, músculos murchando, gorduras se acumulando num corpo magro e desajeitado, como sempre foi.
Porra de natureza! Por que tem que ser assim?

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