quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

E eu?

Que que eu vou fazer da vida!!!!
Quinze anos e não sei pra onde vou, como, quando, de que jeito.
Dizem que sou bonita e, acho que sou mesmo. O corpo também não é feio. O problema é que sou meio desengonçada, jeito de moleque. Gosto de brincar de luta, de jogar futebol, não gosto de bonecas e brincadeiras de meninas.
Será que sou sapatão?
Não sinto atração por meninas. Na verdade, nem por meninos. Já fiquei com alguns moleques, mas não senti nada de bom. Deixei alguns passarem a mão em mim, pra ver se sentia alguma coisa diferente, mas não senti nada. Na verdade, não é que não senti nada, senti uma coisa gostosa, mas, ao mesmo tempo, senti uma coisa ruim. É difícil explicar. Acabava empurrando o moleque e indo embora.
Ouço as meninas falando do que sentem quando ficam com algum moleque, de tesão, de uma coisa gostosa, vontade louca de beijar, de sentir ele dentro dela.
Sinto atração por homens mais velhos. Mas não sei se é vontade de ficar com eles ou de ser como eles.
Tenho pai e mãe, mas não tenho nenhum nem outro. Tenho tios, tias, primos, primas; mas sinto que não os tenho também. Quando eles querem alguma coisa de mim, me acham. Quando preciso deles, não encontro ninguém. É como se andasse num pasto, sem rumo, seguindo as trilhas do gado, mudando de uma pra outra, todas iguais, levando ao nada, dando voltas, chegando aos mesmos lugares.
Penso em pegar uma reta, caminhar em frente, procurar coisas diferentes, conhecer, sei lá; fazer algo diferente. Mas, o que, como?
Penso em ir para uma cidade grande, arrumar um trabalho, sair à noite, conhecer gente, coisas diferentes. Me imagino andando pelas ruas sem rumo até encontrar uma coisa muito boa. Mas, o que? Ai, sinto medo! De me perder e não saber voltar, de sofrer alguma coisa ruim, que também não sei o quê. É um medo muito grande, maior que a vontade de encontrar alguma coisa boa. Sinto muito medo de ser estuprada, não sei porque, afinal as mulheres vivem dando e dizem que sentem muito prazer. Acho que é só relaxar e deixar o cara te comer, mas sinto muito medo.
Já pensei em ser polícia, correr atraz de bandidos, atirar neles, atirá-los dentro do carro da polícia, entrar empurrando eles na delegacia, chutando a bunda, saindo pra ir buscar mais. Depois penso neles correndo atraz de mim, atirando, me acertando e eu no chão, sangrando, com muita dor.
As vezes, sentada na frente de casa, observo o movimento na estrada e me imagino dirigindo uma daquelas carretas, viajando pra todo lugar. Me imagino trocando pneus, ajudando outros motoristas a consertar seus caminhões. Imagino que paro num posto de beira de estrada, tomo uma pinga, janto, tomo cerveja e, depois, sento com outros motoristas contando histórias de viagens. Ai imagino que meu caminhão pode quebrar numa estrada deserta, a noite e para alguém, só que invés de me ajudar, me estupra. Outra vezes imagino que, enquanto troco um pneu, aparce uma onça e me ataca. Ai, a vontade de ser motorista desaparece.
Já pensei em ser médica, mas de que jeito? Não gosto de estudar e sei que pra ser médica é preciso estudar muito. Mesmo que eu quisesse, como ia estudar? Aqui só tem escola fuleira, não tem nenhuma que preste. Não tenho cabeça pra isso não!

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