quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Quem e o que sou?

QUEM E O QUE SOU?
Tenho me queixado de não ser valorizado, de que ninguém se interessa por minhas idéias, pensamentos e a coleta de dados e experiências que me propiciaram análises e conceitos que, hoje, defendo. Entre outras causas, inclusive o mistério, falta uma exposição resumida do que penso, dos conceitos e do que os causou. Quem poderá se interessar por algo que não conhece?
Por isso resolvi tentar redigir um texto que sirva para mostrar o que, acho, desperte a atenção para o assunto e propicie sua discussão.

A questão fundamental é o mistério que envolve a vida do ser humano, as causas que o levam a pensar e agir. O segundo ponto é a camulagem propiciada pela ciência, filosofia, religiões e exoterismo; tentando apresentar conhecimentos e compreensões que, na verdade, explicam muito pouco, mas desviam a atenção que poderia propiciar um empenho maior na busca de causas que propiciassem verdadeira compreensão, onde ficasse claro o que não pudesse ser compreendido e que deveria possibilitar meios para conviver com esse desconhecimento, até que novas descobertas fossem diminuindo ou eliminando o mistério que as envolve.

O que motivou estes questionamentos foi a observação do ser humano, principalmente eu mesmo.
Ao ouvir conversas de meu pai com amigos, percebi a inconsistência dos argumentos religiosos, tentando, através de dógmas, impingir verdades que não resistiam ao menor questionamento. Isso aconteceu já na infância, o que pode Ter se devido mais a admiração que eu tinha por meu pai do que a qualquer tipo de verdadeira compreensão, para o que me faltavam conhecimentos e maturidade. A aquisição de conhecimentos e o aumento da maturidade foram reforçando, em mim, a descrença religiosa, configurando verdadeiro ateísmo.
Minha formação na área tecnológica conduziu-me pelo caminho do ceticísmo, fazendo-me duvidar de tudo que não pudesse ser explicado logicamente, através do raciocino, fundamentado em dados concretos.
O ceticiísmo começou a ser solapado ao constatar que soluções racionalizadas, apoiadas em raciocínios lógicos, a partir de dados reais; não propiciavam o resultado esperado e a lógica não conseguia entender os porquês. Isso acabou por indicar que a causa principal estaria no ser humano, ocasionado pela diferença entre os indivíduos, nas suas limitações, na incoerência de seus pensamentos e ações; em fim, na inconsistência dos dados que se referiam a ele.
A primeira constatação foi que o indivíduo não deve ser considerado isoladamente, que ele sofre a influência do meio em que vive, que é afetado pelo meio social, por problemas que ele não criou e que não tem como resolver, por condições que o impedem de resolver o que estaria a seu alcance, pela falta de controle sobre si mesmo. Essa constatação abalou o ceticísmo, mas não o eliminou, nem mesmo foi suficiente para colocá-lo em xeque. Passei a acreditar que esses problemas eram causados pela falta de educação, de conhecimentos que permitissem compreensão e, a partir dela, a contribuição do indivíduo para a solução dos problemas do conjunto, que resultaria na solução dos problemas individuais.
Essa não era uma idéia minha, era defendida, há muito, por educadores e filósofos; eu simplesmente a considerei válida, justifiicada por argumentos que pareciam irrefutáveis. Passei anos acreditando nisso, empenhando-me para contribuir na solução, questionando, discutindo, analisando e tentando colocar em prática algumas soluções que me pareceram viáveis.
Acreditei tanto na ciência, na racionalidade, no potencial intelectual do ser humano, que não percebi o quanto eu mesmo era afetado, impossibilitado de verificar o que acontecia comigo, as teses que defendia para justificar o que me favorecia, acreditando que eram altruístas e inquestionáveis. Não percebia a interferência da emoção, da vontade própria, interferindo na racionalidade, escondendo o que não interessava ser visto e realçando o que poderia justificar o que interessava, mesmo que irreal, produto da fantasia e interesses escusos.
Aos cinqüenta e três anos, um problema passional me mostrou a existência de pensamentos que ocupam nossa mente, independente de nossa vontade e, até mesmo, contra ela. Verifiquei a impossibilidade de eliminar esses pensamentos, por mais indesejáveis que fossem e por maior mal que nos causem. Questionei: “Se esses pensamentos acontecem em mim, contra a minha vontade, quem os comanda? A quem interessam? Qual seu objetivo?”
Essa constatação me alertou para coisas e possibilidades de que forças estranhas a nós, nos levem a resultados inesperados e, muitas vezes, indesejáveis, sendo-nos impossível evitar que isso aconteça.
Algumas evidências mostram claramente o quanto estamos sujeitos a essas forças, o quanto elas interferem em nossas vidas e a impossibilidade de nos opormos a elas. Não podemos escolher a quem amar, muito menos fazer com que, quem amamos, nos ame na mesma intensidade, corresponda à emoção que sentimos. Outra evidência é a existência de pensamentos indesejados, dominando-nos mesmo contra toda a força que façamos para eliminá-los. Os chamados milagres, acontecimentos inexplicáveis, cuja evidência é inquestionável pela racionalidade, mas cujas causas são imcompreensíveis, inimagináveis, abrindo campo para tentivas de explicações exdrúxulas, baseadas em dógmas e sem qualquer justificativa racional, também constituem um grande mistério.
O que provoca os sonhos? Qual sua finalidade?

A ciência conhece muito sobre o cérebro, neurônios, ligações elétricas; quais partes dele comandam o quê, no entanto, isso não esclarece o funcionamento do pensamento, da emoção, da vontade. A psicologia alega conhecer o íntimo do ser humano, suas aflições, os distúrbios sem causas físicas ou biológicas; no entanto, não consegue resolver grande parte dos dramas do indivíduo, causados pela emoção. Não consegue fazer com que o indivíduo esqueça um grande amor impossível de se realizar. Não consegue fazer com que um indivíduo ame outro.
A parapsicologia considera a possibilidade de interferência de causas intrauterinas, durante a gestação e, inclusive, de causas originadas em outras vidas que o indivíduo tenha tido, caracterizando a possibilidade de reencarnação.
A astrologia defende a relação do que será a vida do indivíduo com a posição dos astros no momento do seu nascimento, estabelecendo características comuns a grupos de indivíduos pertencentes a mesmos períodos do ano no que se refere ao nascimento, designados por sígnos. As características individuais se baseiam em análises de dados mais detalhados da posição dos astros, considerando a precisão do horário do nascimento.
Religiões, como a espírita, tentam explicar fatos irracionais através da interferência do que chamam de espíritos que já viveram ocupando corpos na Terra, vivendo normalmente em tempos passados. Defendem, ainda, a possibilidade desses espíritos se comunicarem com seres vivos, com capacidade que chamam de mediúnica. A questão é que os fatos que eles apresentam como justificativa são aleatórios e não se enquadram em nenhuma regra racional. Muitos dos fatos que eles apresentam como prova do que defendem, são inquestionáveis. Os fatos são inquestionáveis, isto é: os efeitos; a questão é que as causas são totalmente desconhecidas e imcompreensíveis.
A ciência tem investiudo muito e usado toda sua capacidade para compreender a criação do universo e, principalmente, dos seres vivos. Várias hipóteses foram aventadas e teorias complexas montadas para concluir teses que, no entanto, nada tem contribuido para desvendar o grande mistério: o princípio de tudo e o que teria motivado toda essa criação. É inimaginável a capacidade e o poder necessários para essa criação.
O que é significativo para a qualidade de vida do indivíduo é o que ele sente: prazer e felicidade, versus sofrimento e infelicidade. O que importa ao indivíduo é o que ele sente, independente de se o que possibilita isso é real, fantasia ou ilusão. Um marido que considera a traição da mulher como imperdoável, poderá ser muito feliz, mesmo que traído, se não souber disso e acreditar que a mulher lhe é totalmente fiel. Uma mulher com corpo admirável, poderá sofrer muito por sentir-se gorda ou acreditar que tem algum defeito localizado, mesmo que isso não passe de imaginação e seja facilmente comprovável. Ela sofrerá, por mais que a realidade e a racionalidade comprovem que os defeitos sentidos são irreais. A somatização produz doenças causadas pela imaginação do indivíduo e, tudo indica que o inverso também é possível.
A racionalidade pode ajudar a compreender muitas coisas e promover uma convivência melhor com o inevitável. No entanto, ela dificulta a ilusão, impedindo que o indivíduo deixe de perceber a realidade e suas conseqüências. Uma mesma causa ou fato pode ser motivo de felicidade para uns e de sofrimento para outros, dependendo da maneira como é visto e o sentimento que causa.

Não me parece fundamental identificar todas as causas e compreender tudo, pois considero que isso seja impossível, está além da capacidade humana. No entanto, buscar compreender o simples, admitir a impossibilidade de identificar causas e buscar maneiras de conviver com o inexorável poderia ajudar a solucionar problemas ou possibilitar maneiras mais fáceis de conviver com eles. É evidente que podem ser consideradas excessões as pessoas com capacidade de questionar, coletar dados, analisá-los e concluir, mudando os conceitos toda vez que novos dados mostrem essa necessidade. A maioria dos indivíduos aceita, sem questionar, conceitos alheios que, para eles, são o que se pode chamar de preconceitos. Não sei se isso pode ser mudado, se é devido a deficiência de educação ou de oportunidades. O importante é que isso seja analisado e discutido na tentativa de verificar a possibilidade de mudanças. Se a modificação disso não for possível, fica claro que os pensadores deverão assumir seu papél e responsabilidade, evitando as influências maléficas de pensadores egoístas que não titubeiam em explorar os outros em benefício próprio.

Acho que a ciência nunca sofrerá de escacez de problemas que necessitem sua interveniência. Acredito, no entanto, que, como tudo na vida, é necessário priorizar, dirigir forças para os problemas mais preementes. Ter em mente que, no que se refere ao ser humano, é fundamental compreender a importância dos seus sentimentos e de que eles são o determinante da qualidade de vida.

Um comentário:

Unknown disse...

Parece que estou ao redor de uma mesa ouvindo Pepe. Cada noitada de discussão com o Pepe é um convite à reflexão, ao pensamento, é um exercício da mente.
Que bom ter a conversa escrita, pois tem "replay' e quando não entendo eu volto.ha ha ha !!!♣♣♣